Institucionalização Precoce
Uma das populações mais vulneráveis na primeira infância são as crianças sob a responsabilidade dos estados. Esses meninos e meninas – que por razões dolorosas como a morte ou ausência de suas mães, seus pais ou outros representantes legais – vivem em instituições ou centros residenciais, que muitas vezes são ambientes prejudiciais ao seu desenvolvimento e às suas relações afetivas. Esse projeto pioneiro busca examinar e comparar o efeito de duas intervenções de serviços de cuidado infantil aprimorados no desenvolvimento socioemocional, cognitivo e cerebral de crianças de 0 a 2 anos sob a responsabilidade do estado de São Paulo. Com o objetivo de oferecer a essas crianças serviços de qualidade, uma intervenção apoia os lares adotivos temporários e a outra o cuidado institucional. Essa inovação, baseada no influente projeto de intervenção precoce de Bucareste, visa fornecer novas evidências científicas no contexto brasileiro sobre a melhor forma de parentalidade para crianças sob o cuidado de estados.
Problemática
Estima-se que 250 mil crianças na América Latina e Caribe vivem sob cuidado institucional, e muitas mais em instituições não registradas. No Brasil, o contingente de 40 mil crianças institucionalizadas está aumentando rapidamente. Há evidências oriundas de outros países dos efeitos negativos no desenvolvimento físico, social, cognitivo e emocional das crianças que crescem nessas instituições. Por outro lado, há estudos que mostram as vantagens do cuidado em lares adotivos sobre o cuidado institucional, especialmente em idades precoces: as crianças sob a responsabilidade do Estado em ambientes de cuidado adequados são mais propensas a se recuperar dos efeitos da privação de afeto e estimulação adequada. No entanto, faltam evidências e há preocupação por parte dos governos em relação ao alto custo das alternativas de cuidado baseadas em lares adotivos temporários, o que dificulta sua implementação em ambientes de renda baixa ou média.
Solução
O projeto busca criar um ambiente positivo para as crianças nessas condições dolorosas, proporcionando a meninos e meninas o atendimento de suas necessidades de forma mais individualizada, a fim de minimizar os danos físicos e emocionais causados pela transferência temporária de sua família de origem. Para tanto, trabalhará com a Vara da Família do Estado de São Paulo na identificação de crianças com menos de 24 meses de idade sob o cuidado do estado. Pais de lares adotivos temporários e cuidadores institucionais receberão a mesma intervenção de feedback em vídeo para promover a parentalidade positiva. Embora comprovadamente bem-sucedida, essa intervenção de cuidado será implementada no Brasil pela primeira vez. Os instrutores se reunirão com os cuidadores durante 10 semanas para discutir gravações de crianças e seus cuidadores, reforçando as interações positivas.
O projeto fornecerá novas formas de cuidado para que possam ser incorporadas às abordagens públicas de proteção à criança e ampliadas. O projeto busca contribuir para a implementação da política de proteção à criança e ao adolescente em situação de abandono, ampliando as alternativas de cuidado e realizando um trabalho em rede e diferenciado, visto que procura garantir a articulação entre o Judiciário, o Executivo e outras instituições envolvidas. Também fornecerá a primeira análise de custo-benefício das diferentes formas de cuidado, abordando uma lacuna importante nas evidências nessa área em todo o mundo.
Avaliação e Impacto
Será realizada uma avaliação experimental que visa compreender e fornecer evidências científicas da forma mais econômica e benéfica de cuidado infantil entre as duas intervenções. Aos 24 meses e novamente aos 36 meses da intervenção, a criança e o cuidador participarão de avaliações de acompanhamento, em que serão analisados seu desenvolvimento socioemocional, medidas cerebrais, QI e saúde mental. O ambiente e a linguagem da criança também serão avaliados por meio de entrevistas e questionários. Esse projeto trará impactos para vários atores: crianças, famílias e instituições, além de evidências para os principais tomadores de decisões sobre o tema no mundo.